Arara-de-barriga-amarela | ||||||||||||||
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Classificação científica | ||||||||||||||
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Ara ararauna (Linnaeus, 1758) |
Índice[esconder] |
Descrição
Os indivíduos desta espécie pesam cerca de 1,1 quilogramas e chegam a medir até noventa centímetros de comprimento, com partes superiores azuis e inferiores amarelas, alto da cabeça verde, fileiras de penas faciais negras sobre o rosto glabro e branco, olhos de íris amarela e garganta negra. Têm uma longa cauda triangular, asas largas, um bico escuro grande e forte e as típicas patas zigodáctilas dos psitacídeos, com dois pares de dedos opostos, o que lhes dá grande destreza para escalar árvores e manipular os alimentos. Seu grito típico é um RRAAAAK gutural e áspero com entonação ascendente, mas podem produzir diversas outras vocalizações mais anasaladas e musicais.[10][11][12][editar] Distribuição, Ameaças e Conservação
A Ara ararauna ocorre em uma grande região da América do Sul a leste da Cordilheira dos Andes, concentrada na região amazônica até o norte do Paraguai e Bolívia, mas chegando ao litoral somente no norte do continente, entre o Pará e a Venezuela. Também é encontrada em ilhas de ocorrência no sul do Panamá, Peru, Equador e Colômbia.[10] No Pantanal, sua ocorrência é rara.[13] Foi introduzida pelo homem em Porto Rico.[14] É raramente avistada em altitudes superiores a 1 650 m.[15]Graças à sua vasta distribuição e grande população estimada, esta espécie de arara não está em condição de ameaça imediata,[14] mas sua população vem declinado diante da destruição do ambiente e do comércio intenso, muitas vezes ilegal, sendo procurada em todo o mundo como animal de estimação por sua docilidade em cativeiro e grande beleza. Entre 1981 e 2005, foi registrado o comércio de 55 531 exemplares,[14][15] e o preço por indivíduo pode chegar a 4 000 dólares estadunidenses.[16] O relatório da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres apontou a existência de quatro tipos de tráfico de animais no Brasil. O primeiro é o tráfico para colecionadores particulares e zoológicos. Os principais clientes situam-se na Europa, Ásia e América do Norte e, entre as espécies mais procuradas, encontra-se a arara-canindé. A segunda modalidade, a chamada biopirataria, sequestrando espécimes para a pesquisa científica, não chega a atingir a canindé, mas a terceira sim, a que busca animais para petshops, bem como a quarta, que busca suas penas para a indústria da moda.[17]
A atividade predatória do homem já fez com que em alguns locais fosse extinta, como em Trinidad e Tobago,[14] Santa Catarina, Paraguai e Bolívia,[18] ou quase extinta, como em São Paulo.[19] Na área do cerrado, atualmente o bioma mais ameaçado da América do Sul, onde outrora abundava, já é considerada em perigo.[20] O caso se torna mais grave quando se sabe que a canindé está envolvida na dispersão de sementes, atividade importante para o equilíbrio do seu ecossistema,[17] e que os caçadores clandestinos muitas vezes abatem as árvores com os ninhos para chegar aos filhotes, prejudicando a reprodução de diversas espécies de aves que utilizam o mesmo ninho em épocas reprodutivas diferentes.[21]
Por outro lado, medidas para sua conservação já foram e estão sendo tomadas. O governo brasileiro proíbe o comércio e cativeiro de animais silvestres em geral e mantém reservas ecológicas onde ela ocorre,[17][22] e algumas regiões elaboraram políticas específicas para sua proteção.[23][24] Já existem diversos projetos, mantidos pela iniciativa privada e/ou pelos governos, para o estudo, proteção e recuperação das populações de araras-canindé,[25][26][27][28] e os criadouros comerciais regulamentados também contribuem na proteção e propagação da espécie. As técnicas para sua criação já foram bem dominadas e o número de ovos produzidos em cativeiro a cada postura pode chegar a vinte, em comparação com a média de dois na natureza.[29][18]
Comportamento e reprodução
As araras-canindé na natureza vivem em habitats variados, desde a floresta tropical úmida até savanas secas.[14] Vivem preferencialmente no estrato arbóreo superior e em proximidade da água.[15] Essas aves, como outros membros de sua família, são gregárias e barulhentas, podendo viver em comunidades numerosas, mas grupos pequenos ou mesmo apenas casais com crias também são comuns. Podem passar longos períodos do dia em repouso, relacionando-se com companheiros ou fazendo acrobacias no alto dos galhos. Voam em pares ou em grupos de três indivíduos, frouxamente ligados a um grupo maior. São grandes voadoras e podem transpor grandes distâncias entre os locais de repouso e nidificação e os de alimentação a cada manhã e tardinha, e tipicamente seus gritos são ouvidos muito antes de as aves serem vistas. Ocasionalmente alguns exemplares podem ser encontrados a grande distância de suas áreas de frequentação habitual.[11]Uma vez que formam casal, não mais se separam. Se em sua região os locais para nidificação são escassos, casais podem expulsar ou matar ocupantes de ninhos já estabelecidos.[15] Nidificam a cada dois anos entre agosto e janeiro, em buracos que escavam nos troncos de árvores e palmeiras. A serragem resultante se acumula no fundo e serve para secar as fezes e acolchoar os ovos, em geral dois, podendo chegar a cinco, que a fêmea, principalmente, choca por cerca de 25 dias. O macho alimenta a fêmea durante este período e protege o ninho de invasores. Um estudo realizado no Parque Nacional das Emas, monitorando dezoito ninhos, indicou uma taxa de natalidade de 72%. Os filhotes nascem implumes, cegos e indefesos, e são alimentados por ambos os pais com frutas e sementes regurgitadas, permanecendo no ninho por três meses. Mesmo depois de aprenderem a voar as crias permanecem com os pais por até um ano inteiro, e atingem a maturidade sexual somente depois de três ou quatro anos.[29][12][15][22][25][21]
Seus maiores inimigos são aves de rapina de grande porte,[15] mas tucanos e primatas de médio porte podem predar ovos e filhotes.[21] Alimentam-se de sementes e frutos, incluindo o buriti (Mauritia flexuosa), o cajuzinho (Anacardium humile), o iriri (Allagoptera leucocalyx) e a gabiroba (Campomanesia adamantinum),[25] de preferência ainda verdes, a despeito das toxinas ou do sabor desagradável que tais alimentos possam ter. Reúnem-se em grandes bandos em encostas argilosas expostas para ingerir argila, necessária para eliminarem toxinas da dieta e para enriquecê-la com um suplemento de elementos minerais. Têm grande força no bico, possibilitando-lhes abrir sementes de casca muito dura, como a castanha-do-pará.[15]